Estamos em outubro — um mês de festa para quem se importa com segurança digital. Outubro é o Mês da Conscientização em Cibersegurança (Cybersecurity Awareness Month), uma iniciativa que nasceu em 2004 como parceria entre agências governamentais e organizações civis para lembrar que a segurança online é responsabilidade de todo mundo.
É uma época de campanhas, dicas práticas e — acima de tudo — de transformar pequenas mudanças em hábitos permanentes. A Eskive está celebrando este mês com conteúdos alinhados aos quatro pilares oficiais da campanha (o chamado Core 4), e hoje seguimos na série falando sobre autenticação multifator — também conhecida no mercado como MFA, autenticação dupla, autenticação em dois fatores ou autenticação multifatorial.
O objetivo é simples: ajudar você a entender o que é, como funciona, quais são os tipos e por que essa camada adicional de proteção é uma das formas mais eficazes de se proteger no mundo digital.
O que é MFA e por que ela é tão importante?
A autenticação multifator (MFA) é um mecanismo de segurança que exige, no momento do login, mais do que apenas o tradicional “usuário + senha”. Em vez de confiar somente em algo que você sabe (a senha), o MFA pede também algo que você tem (como um celular, token ou chave física) ou algo que você é (como uma impressão digital ou reconhecimento facial).
A ideia é simples e poderosa: mesmo que alguém descubra sua senha, não conseguirá entrar na sua conta sem o segundo fator. É por isso que o MFA se tornou uma das principais recomendações de segurança digital tanto para pessoas quanto para empresas.
Diversos estudos mostram que o MFA reduz em mais de 99% as chances de uma conta ser invadida, mesmo no caso de uma senha vazada. Ele não é infalível — nenhum método de segurança é —, mas é uma das medidas mais eficazes e fáceis de adotar.
Os diferentes nomes: MFA, 2FA, autenticação em dois fatores…
O mundo da segurança digital é cheio de siglas e nomes que, muitas vezes, descrevem a mesma coisa. É comum ver “MFA”, “2FA” (two-factor authentication), “autenticação dupla”, “autenticação multifatorial” ou “verificação em duas etapas”.
Na prática, todos esses termos se referem ao mesmo conceito: a exigência de dois ou mais fatores diferentes para confirmar que você é realmente quem diz ser.
A diferença entre eles é mais de nomenclatura do que de funcionamento. O termo “2FA” é usado quando há exatamente dois fatores, enquanto “MFA” é um termo mais genérico, que inclui qualquer combinação de dois ou mais fatores.
Tipos de autenticação multifator: como funcionam e o que esperar de cada um
Existem várias maneiras de implementar o segundo fator de autenticação. Abaixo, explicamos as principais opções disponíveis, seus prós e contras, e quando vale a pena usar cada uma.
1. Códigos via SMS
É o método mais conhecido. Após inserir sua senha, o sistema envia um código por SMS para o seu celular. Você digita o código e pronto: o login é concluído.
- Pontos positivos: é simples e não exige instalação de aplicativos. Quase todo mundo sabe usar.
- Pontos negativos: o SMS não é o método mais seguro. Ele pode ser interceptado em ataques de SIM swapping (quando criminosos clonam o número do seu chip), falhas de rede e golpes de engenharia social. Ou seja, é melhor que nada, mas há opções bem mais seguras.
2. Aplicativos autenticadores (TOTP)
Esse é o método que você encontra em apps como Google Authenticator, Microsoft Authenticator, Authy, entre outros. Ele gera um código temporário de 6 dígitos que muda a cada 30 segundos. Esses códigos são criados com base em uma chave secreta armazenada no seu celular — e não dependem de conexão com a internet.
- Pontos positivos: mais seguro que o SMS, pois o código é gerado localmente.
- Pontos negativos: se você perder o celular e não tiver configurado um método de recuperação, pode perder o acesso à conta. Por isso, sempre salve os códigos de backup fornecidos pelo serviço.
3. Notificações push (confirmação por aplicativo)
Cada vez mais populares, essas notificações aparecem no seu smartphone assim que alguém tenta acessar sua conta. Você recebe um alerta e precisa apenas aprovar ou negar o acesso.
- Pontos positivos: conveniência e rapidez. Muitas vezes mostram o local e o dispositivo que fez o login, ajudando você a reconhecer se o acesso é legítimo.
- Pontos negativos: pode ser alvo de ataques de “prompt bombing”, em que o criminoso envia várias solicitações para confundir ou irritar o usuário, esperando que ele aceite por engano.
4. Tokens físicos e chaves de segurança (FIDO2, YubiKey etc.)
As chaves de segurança físicas são consideradas o padrão ouro da autenticação multifator. Elas utilizam criptografia de chave pública para confirmar sua identidade, e o processo é vinculado ao site original — o que impede que ataques de phishing funcionem.
- Pontos positivos: extremamente seguras e resistentes a ataques de phishing.
- Pontos negativos: é preciso comprar o dispositivo físico e mantê-lo consigo. Também é importante ter um plano de recuperação caso a chave seja perdida.
5. Passkeys (a evolução sem senha)
As passkeys são uma evolução do MFA. Elas eliminam a senha completamente e usam o mesmo princípio de criptografia das chaves FIDO2. O login é feito com um dispositivo de confiança (celular, notebook etc.) e, normalmente, protegido por biometria.
- Pontos positivos: muito seguras e fáceis de usar, já que não exigem lembrar senhas.
- Pontos negativos: ainda estão em adoção gradual, então nem todos os sites ou sistemas suportam essa tecnologia.
Qual método escolher?
A resposta depende do nível de segurança que você precisa e da praticidade que deseja manter. Mas, de modo geral, a hierarquia de segurança é clara:
- Chaves de segurança físicas (FIDO2/WebAuthn ou passkeys) — as mais seguras.
- Aplicativos autenticadores (TOTP) ou notificações push — boa combinação de praticidade e segurança.
- SMS — serve como último recurso, melhor que nada, mas com riscos conhecidos.
O ideal é sempre ter mais de um método configurado, para não depender de um único dispositivo. Por exemplo: use um aplicativo autenticador como principal e mantenha uma chave física como backup.
Recuperação e boas práticas
Ativar MFA é um grande passo, mas é importante planejar o que fazer se algo der errado:
- Guarde os códigos de recuperação que o serviço oferece. Imprima-os ou anote em um local seguro, offline.
- Cadastre um método alternativo (um segundo autenticador ou chave de segurança).
- Proteja o próprio dispositivo que você usa como segundo fator — mantenha PIN, senha ou biometria no celular.
- Em caso de perda ou roubo, use as opções de bloqueio remoto e troque senhas de contas críticas imediatamente.
No ambiente corporativo, é fundamental que as empresas adotem MFA como política obrigatória para todos os acessos administrativos e dados sensíveis. Automatizar essa exigência e treinar colaboradores para reconhecer tentativas de engenharia social ajuda a reduzir drasticamente riscos de invasão.
Mitos comuns sobre MFA
“MFA é complicado.”: Na verdade, a maioria dos serviços tornou o processo bem simples. Configurar um app autenticador leva menos de cinco minutos.
“Posso ficar preso fora da conta.”: Isso só acontece se você não guardar seus códigos de recuperação ou não tiver outro método de backup. Planejando isso, é muito improvável perder o acesso.
“SMS é suficiente.”: SMS é melhor do que não ter MFA, mas é o método menos seguro. Sempre que possível, prefira um aplicativo autenticador ou uma chave física.
“MFA substitui senhas fortes.”: Não. MFA complementa senhas fortes — ele é uma camada extra, não um substituto. O ideal é usar as duas coisas juntas.
MFA para empresas: uma necessidade, não um luxo
Em empresas, especialmente as que lidam com dados sensíveis, o MFA não deve ser opcional. A maioria dos ataques que comprometem credenciais corporativas ocorre porque uma senha foi descoberta ou reutilizada. Com MFA, mesmo que isso aconteça, o invasor precisa ainda vencer uma segunda barreira — e na prática, isso quase nunca ocorre.
Além disso, muitas normas de segurança e compliance (como ISO 27001, LGPD, GDPR, SOC 2) já consideram o uso de autenticação multifator como um requisito básico de proteção. Implementar MFA em contas administrativas, painéis de controle, e-mails corporativos e VPNs é uma das medidas mais simples e baratas para evitar prejuízos financeiros e de reputação.
Conclusão: ative o MFA — hoje
O Mês da Conscientização em Cibersegurança é o lembrete perfeito para adotar práticas que realmente fazem diferença. E poucas medidas são tão eficazes quanto ativar a autenticação multifator (MFA).
Ela é simples, acessível, e pode ser configurada na maioria dos serviços que você usa no dia a dia — e-mail, redes sociais, aplicativos bancários, gerenciadores de senhas e contas corporativas. Comece pelas suas contas mais importantes: o e-mail principal (que costuma servir de chave para todas as outras), o banco e os serviços em que você armazena dados sensíveis.
A segurança digital é construída por hábitos. Usar MFA é um desses hábitos que valem ouro — e que podem te poupar de dores de cabeça, fraudes e invasões.
A Eskive segue com novos conteúdos sobre os pilares do Mês da Conscientização, e nas próximas semanas vamos continuar explorando boas práticas e ferramentas para fortalecer sua proteção digital.