O fenômeno conhecido como correntes do WhatsApp passou a fazer parte do cotidiano digital de milhões de pessoas. Por trás das mensagens repetidas, muitas vezes bem-intencionadas ou apenas curiosas, existe um universo de riscos: golpes, phishing, engenharia social e exploração de confiança.
Correntes do WhatsApp são mensagens que circulam repetidamente entre usuários, normalmente pedindo para que o conteúdo seja encaminhado para outras pessoas. Essas mensagens podem ser textos, imagens, áudios, links ou vídeos. Algumas correntes são inofensivas — brincadeiras, piadas ou correntes de oração — mas outras escondem intenções maliciosas e funcionam como vetor para um scam.
A natureza viral das correntes de WhatsApp decorre de três fatores essenciais: a facilidade de encaminhamento, a presença de grupos com muitos participantes e a confiança intrínseca nas recomendações de amigos e familiares. Essa combinação transforma a corrente em um canal extremamente eficaz para quem quer aplicar engenharia social.
O que é scam e quem são os scammers?
Scam é um termo em inglês que descreve um golpe ou fraude. Um scammer é o agente que cria ou orquestra o golpe. Scammers podem ser indivíduos isolados, grupos organizados ou até operações criminosas que atuam em escala. A intenção do scam varia: roubo de credenciais, instalação de malware, obtenção de dados pessoais, extorsão financeira ou disseminação de links que legitimam serviços falsos.
Em geral, a engenharia social é a técnica central utilizada pelos scammers nas correntes de WhatsApp. Engenharia social significa manipular emoções e comportamentos humanos para induzir uma ação desejada — clicar num link, instalar um aplicativo, compartilhar informações ou enviar dinheiro.
Mensagens de corrente exploram gatilhos psicológicos como urgência, medo, curiosidade, autoridade e reciprocidade. Por isso, uma única mensagem bem estruturada pode convencer dezenas ou centenas de pessoas a realizar ações perigosas.
Origem e evolução das correntes: das cartas aos apps
As correntes não nasceram com o WhatsApp. A ideia de mensagens que se replicam existe há décadas, em correntes de cartas, e-mails e SMS. Com o tempo, o formato evoluiu conforme as plataformas mudavam, e o WhatsApp, por sua característica de mensageria instantânea e grupos amplos, tornou-se terreno fértil.
No início eram rumores e boatos — histórias sobre cranes que voavam ou alertas sobre produtos que causavam danos. Com o amadurecimento da tecnologia e a profissionalização do crime digital, surgiram correntes de WhatsApp que passaram a incluir links maliciosos, solicitações de doações falsas, falsas promoções de empresas conhecidas e páginas de phishing que imitam bancos, serviços de entrega ou lojas.
Nos últimos anos, as correntes também evoluíram tecnicamente. Além do link direto, o scam pode usar arquivos anexos com malware, números falsos que se passam por conhecidos, gravações de voz manipuladas ou até instruções para instalar versões não-oficiais do aplicativo, que abrem a porta para roubo de dados.
A circulação constante nas redes e a rápida adaptação dos scammers às novidades tecnológicas explicam por que as correntes no WhatsApp permanecem um problema relevante.
Como funciona: anatomia de uma corrente maliciosa
Uma corrente de WhatsApp usada como scam costuma seguir um roteiro previsível. Primeiro, a mensagem é criada com um gancho emocional: um prêmio que só dura até meia-noite, um pedido de ajuda para uma suposta vítima, ou um alerta urgente sobre um problema de segurança.
Em seguida, a mensagem contém um chamado à ação: clicar no link, compartilhar com X pessoas, ligar para um número, ou baixar um anexo. O link leva a uma página que pode pedir dados de login, solicitar instalação de um APK fora das lojas oficiais ou registrar o número em serviços pagos.
O scammer monitora a propagação, recolhe credenciais ou ativa cobranças indevidas e repete o ciclo. Em alguns casos, a própria ação de encaminhar fortalece a credibilidade, porque amigos compartilham involuntariamente uma farsa.
Exemplos de correntes comuns
Uma corrente do WhatsApp pode prometer um cupom de desconto enorme para uma grande rede de supermercados. O link leva a um formulário que coleta nome, CPF, telefone e dados do cartão. Em outro caso, a corrente afirma que um amigo ou parente sofreu um acidente e precisa de transferência imediata; esse golpe usa engenharia social para induzir transferências por impulso.
Há correntes que dizem que o WhatsApp será pago e orientam a clicar num link para reativar a conta — na verdade, trata-se de phishing para coletar dados. Correntes com arquivos anexos podem trazer malware que, uma vez instalado, permite acesso aos contatos e o envio automático de novas correntes a partir do aparelho comprometido.
Também existem correntes que se aproveitam da curiosidade: vídeos “daqui a pouco viral” que, ao serem baixados, instalam um APK malicioso. Outra variação é a corrente que simula uma pesquisa com promessa de prêmio; ao participar, o usuário autoriza o envio de SMS premium ou tem seus dados vendidos a terceiros.
Em grupos de trabalho, chegaram a circular correntes que fingem ser comunicados internos com links que simulam sistemas corporativos, buscando credenciais. A variedade é grande, mas o mecanismo emocional e técnico costuma ser o mesmo.
Por que funcionam tão bem?
A engenharia social explora confiança e relações. Uma mensagem que parece vir de um amigo tem mais chance de ser aceita. Além disso, o contexto do WhatsApp — conversas pessoais e grupos familiares — reduz a suspeita.
Mensagens que pedem ajuda urgente acionam respostas rápidas; mensagens que prometem recompensas exploram ganância; aquelas que apelam para medo ou moral mobilizam solidariedade.
A combinação de gatilhos psicológicos com a facilidade de ação (um toque para encaminhar, um clique para abrir um link) faz da corrente um instrumento poderoso nas mãos de scammers.
Como identificar uma corrente no WhatsApp
Mensagens com pedidos de urgência, com links encurtados e sem identificação clara do remetente merecem atenção. Avisos que prometem prêmios fáceis, solicitações de dados pessoais, pedidos de transferência bancária ou instruções para instalar arquivos fora das lojas oficiais alertam para risco.
Quando a mensagem pede para compartilhar com muitas pessoas para “ativar” algo, trata-se de um padrão clássico de corrente. Verificar a informação em fontes oficiais — site da empresa citada, canais verificados etc. — é um passo simples que reduz muito a chance de cair no golpe.
Outras medidas incluem:
- Nunca compartilhar dados pessoais ou financeiros a partir de um link recebido por mensagem;
- Evitar instalar aplicativos que não estejam nas lojas oficiais;
- Habilitar a verificação em duas etapas no WhatsApp para dificultar clonagens de conta;
- Não encaminhar mensagens sem checar a fonte; às vezes, uma rápida busca pelo texto da mensagem revela que se trata de boato ou scam;
- Em caso de pedido de ajuda que envolve dinheiro, confirmar a história por outros canais (telefonema, contato direto) antes de agir;
- Atualizar o sistema e o aplicativo, usar um bloqueador de chamadas/links suspeitos e denunciar números e mensagens suspeitas ao WhatsApp contribuem para reduzir a circulação das correntes.
Para grupos, mantenha sempre admininistradores responsáveis para restringir quem pode modificar informações do chat ajuda a frear a entrada de mensagens automáticas.
Consequências para quem cai em correntes maliciosas
Quem cai num scam pode ter contas invadidas, perder dinheiro, expor dados sensíveis e sofrer tentativas de extorsão. O dano reputacional também é real: contatos podem ser enganados a partir de uma conta comprometida.
Além do impacto individual, há custo social: campanhas de desinformação e golpes que exploram emoções corroem a confiança nas comunicações digitais, prejudicando comunidades inteiras.
Combater correntes de WhatsApp exige mais do que tecnologia: demanda educação e responsabilidade social. Campanhas de conscientização que expliquem o que é scam e como identificar um scammer ajudam a reduzir a eficácia das correntes.
Grupos familiares e comunidades online podem estabelecer regras simples de verificação e compartilhar orientações. Empresas e organizações devem incluir no treinamento de funcionários cenários reais de correntes e phishing, para reduzir riscos corporativos.
O papel das plataformas e das autoridades
Plataformas de mensageria têm adotado medidas para limitar o encaminhamento massivo e rotular mensagens encaminhadas com frequência, reduzindo a viralidade. Essas ações são relevantes, mas não suficientes: scammers adaptam táticas rapidamente.
Autoridades podem auxiliar com campanhas públicas de informação e investigações mais ágeis contra operações criminosas que se valem de correntes. A cooperação internacional também é importante, pois muitos scammers operam além de fronteiras.
Novas ferramentas de detecção automática podem sinalizar padrões típicos de scam, mas existe também o risco de escalada; scammers podem empregar técnicas de personalização com inteligência artificial para criar correntes mais convincentes.
A evolução dos scams exige atenção contínua: desenvolver habilidades de pensamento crítico e verificação de fontes se torna tão importante quanto manter apps atualizados.
Conclusão: vigilância e prudência na era das correntes
As correntes do WhatsApp, quando usadas para scam, combinam táticas psicológicas e meios técnicos para enganar e explorar confiança. Entender o que é uma corrente no WhatsApp, reconhecer os sinais de engenharia social e conhecer o perfil do scammer ajuda a reduzir danos individuais e coletivos.
A importância de verificar antes de encaminhar, proteger dados pessoais e ensinar familiares e colegas sobre esses riscos não pode ser subestimada. A prevenção é, no fim das contas, uma prática social: quanto mais pessoas souberem identificar e bloquear correntes maliciosas, menos espaço haverá para scammers atuarem com sucesso.